→ Cinética Humana.

FLUXO DE ENERGIA CINÉTICA

30.6.2023

Cinética Humana

A terceira lei de Newton afirma que toda ação gera uma reação no sentido oposto com igual intensidade. É interessante imaginar o quanto princípios da física estão presentes em ações simples do nosso cotidiano como uma simples caminhada.A cada passo dado existe uma aplicação de força contra o solo e, por consequência, uma força de reação em igual proporção. Estamos criando constantemente campos de geração de força até mesmo em ações que muitas vezes nem elaboramos tanto para realizar.


Nosso corpo recebe constantemente o fluxo dessa energia, seja através da força da gravidade, “empurrando” o corpo contra a terra ou quando aplicamos força contra o solo para criar reações correspondentes à gravidade em sentido oposto.


Sempre foi muito subjetivo para eu compreender os vetores que o professor de física desenhava no quadro durante as aulas no tempo de escola e talvez seja mais complicado ainda de realizar que isso acontece dentro da gente. Bom, de qualquer forma, já faz um tempo que passei a entender que o corpo humano serve de fio condutor para um fluxo de energia cinética. Essa conclusão, aliada a luta da gravidade, pautou minhas considerações sobre a fundação que o desenvolvimento das aptidões físicas devem ter.


Quando você inicia estudos sobre o funcionamento do corpo durante a atividade física um dos capítulos da fisiologia do exercício está relacionado aos sistemas de energia que acontecem nas células musculares. Esse conhecimento é fundamental para elaborar tarefas físicas de acordo com os objetivos que um treinador busca com seus alunos e alunas. Entretanto, é extremamente importante considerar que os músculos aproveitam energia cinética durante os gestos. E, ao observar esse aspecto da cinética humana, compreendemos mais uma vez o quanto a flexibilidade é a principal capacidade física a ser abordada no treinamento de base porque torna músculos, tendões e componentes articulares capazes de absorver energia.


Músculos saudáveis facilitam o fluxo de energia, por outro lado, músculos tensos interrompem essa circulação criando áreas de estresse aonde esse fluxo possa estar estagnado, aumentando o risco de lesões por esforço. Essa lógica de raciocínio adiciona mais um novo ponto de reflexão para análise:


Qual é a mecânica adequada?


Os músculos, tendões e componentes articulares quando bem desenvolvidos são capazes de suportar as forças de impacto sem risco qualquer de danos. Mas, para fazer o uso dessa absorção de energia, é necessário que cada gesto do corpo seja feito com a mecânica e posicionamento adequados.


Movimentos incorretos dissipam o fluxo de energia cinética, aumentam o estresse, fadiga muscular e também podem provocar lesões por esforço.


Para entender a mecânica adequada é necessário:



 Colocar o Corpo em Posição Anatômica Contra a Força da Gravidade


 Compreender a relação entre as 3 Linhas (Coluna Vertebral, Cintura Escapular e Pélvica) no enfrentamento da gravidade


 A Relação de Trabalhos Musculares Estáticos e Dinâmicos


 Criação dos Campos de Força nos pontos em que o corpo apoia e/ou segura algo


 A força e início do movimento no “Centro de Gravidade” para as Extremidades



Vamos pensar nas três linhas que dividem o corpo. Considere que os músculos próximos de uma ou duas dessas linhas realizam trabalhos de estabilização (estático) para que aconteça o movimento em um segmento do corpo relacionado a outra linha (2/3 de trabalho estático para 1/3 de trabalho dinâmico). Na maioria das vezes nossas atenções ficam pautadas na parte dinâmica do gesto. Entretanto o trabalho estático é fundamental para garantir a melhor execução e também o ponto correto para a aplicação do vetor de força na área em contato. Esses pontos garantem o reuso da própria energia aplicada.


Um exemplo clássico é o AGACHAMENTO LIVRE (AIR SQUAT)

Os anos de experiência na condução de treinamento sempre demonstraram uma preocupação maior dos praticantes com o movimento de flexão e extensão dos joelhos, especialmente as pessoas com algum histórico de dor nessas articulações. Porém, quando estabelecemos os pontos de performance para uma execução de agachamento adequada, os joelhos são apenas “coadjuvantes” desse movimento.

ETAPAS PARA AGACHAR LIVRE:


1. Pés posicionados na linha dos ombros

2. Postura controlada pela cintura escapular (ombros para trás e para baixo sustentando essa postura)

3. Coluna vertebral arqueada na região lombar

4. Abdominal ativo

5. Pés conectados ao solo criando uma tensão permanente de rotação externa (ativando lateral das coxas e quadris)

6. Início com pequena transferência do corpo para trás da linha da gravidade concentrando o peso nos calcanhares

7. Flexão do Quadril

8. Flexão dos Joelhos

9. Joelhos na Linha dos Pés

10. Retorno com aplicação de força contra o solo

11. Retorno da posição inicial criando resultante contra a gravidade


Coloquei cada etapa ao executar o agachamento para ilustrar a proporção de trabalhos estáticos em relação aos dinâmicos. Considerando todos os 11 itens relacionados, apenas três deles estão ligados ao gesto enquanto oito são de controle e manutenção de postura. Todos esses pontos da execução obedecem ao conceito de enfrentamento da gravidade e uso de energia cinética. Além disso, é extremamente importante observar que o gesto tem início no quadril (centro do corpo), ou seja, agachar é um exercício de quadril e não dos joelhos.


Essa breve análise deixa clara que além de flexibilidade é fundamental ganhar resistência muscular e, sobretudo CONSCIÊNCIA CORPORAL para manutenção e controle da postura.


A manutenção da postura adequada é o “trabalho de força” mais importante quando pensamos no desenvolvimento dessa aptidão física. Manter o corpo equilibrado, ou melhor, posicionar adequadamente nosso centro de gravidade (CG) é o ponto de partida para analisar por onde iremos começar o planejamento do treinamento. Falta de força para estabilização e encurtamento muscular deslocam o CG e aumenta o risco de lesões por esforço a médio e longo prazo.


Os exercícios com o peso do corpo são fundamentais para essa tomada de consciência especialmente as posturas de alongamentos em cadeia. Técnicas como:


  • Yoga
  • Pilates
  • Stretching Global Ativo
  • Isostretching


São interessantes na percepção do corpo (consciência corporal) e organização das cadeias musculares para encontrar a posição adequada do centro de gravidade.


Aliás, o quadril é o gerador de toda força expressada pelas extremidades do corpo. Definição do “ser forte” deve ser feita ao ser humano que controla e movimenta o quadril de forma correta.


Quando começamos a deslocar objetos, particularmente barras e halteres, a linha das escápulas e a coluna vertebral precisam estar preparadas para resistir o implemento extra que pode ameaçar o controle da postural. Por isso é tão necessário os exercícios de calistenia (Barra Fixa, Parada de Mão, Ring Dips e outros) e o trabalho isométrico de levantamento de peso nas posições de saída e finalização dos gestos. Minha reflexão adota como regra fundamental a posição correta do centro de gravidade e, qualquer carga extra ou movimento novo, que comprometa isso devem ser revisados para manter essa premissa.

Segue abaixo um trilho de conhecimento para o desenvolvimento seguro nos treinos de modalidade mistas (MMT) quando trabalhamos com cargas e movimentos com oscilação de ritmo.


  • Controle Corporal
  • Estudos Mecânicos com Carga
  • Repetições Cíclicas


Sua tomada de decisão durante os ajustes de carga e definição de ritmo devem respeitar essas etapas