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Melhorando os Indicadores de Saúde

13.6.2023

Minha primeira matrícula em uma academia foi feita pelos meus pais quando tinha entre quatro ou cinco anos.

Era uma academia de natação, modalidade muito indicada por médicos na época para os diversos problemas de saúde. Eu, uma criança com problemas respiratórios, tive essa recomendação do pediatra como prevenção às crises de bronquite ou até um possível quadro de pneumonia.

É interessante recordar e perceber que minha primeira experiência com atividade física com orientação profissional foi em uma escola de natação e a escolha feita pelos meus pais tinha interesse na melhora da saúde.

Muitos anos depois levava meus filhos ainda bebês, com três meses de vida, à piscina para adaptar ao meio aquático e iniciar bem cedo um processo de aprendizagem motora na água com o interesse de criar autonomia e sobrevivência.

Um exemplo simples que demonstra escolhas iguais com interesses diferentes. De qualquer forma, a minha experiência na infância tem relação com a primeira crença que tive como Educador Físico.

Minha inscrição em uma academia foi feita no início da década de 80 e o mercado de fitness ainda estava muito longe de ser o que tem sido nos dias atuais. Eram poucas academias, o trabalho com pesos livres (halterofilismo) era marginalizado, corpos fortes e musculosos estavam fora dos padrões estéticos, principalmente para mulheres. As academias tinham uma procura maior de interessados próximo ao verão e passavam boa parte do ano vazias com poucos alunos regulares. Algumas modalidades ganhavam popularidade como movimentos culturais e a natação, para a grande maioria, era a melhor solução para os cuidados com a saúde.

Alguns anos depois estava iniciando meus estudos no curso de graduação em Educação Física(1996) e, naquele momento, vivíamos um processo de registro e regularização profissional.

A regularização da profissão mudou o cenário de atuação profissional. Muitos profissionais atuavam no mercado de trabalho sem ter cursado a faculdade. Eram pessoas com muita experiência prática, mas sem qualquer base acadêmica. Todo esse vislumbre de mudança era comentado por professores e alunos durante a graduação com boas expectativas em relação ao papel social do Educador Físico e suas possibilidades de expansão no mercado de trabalho. O fato dessa profissão ainda não ser regulamentada criava uma visão amadora aos profissionais que atuavam nas diferentes áreas da educação física, para muitas pessoas não havia uma identificação de profissão e muitas vezes professores eram abordados com falas assim:

“Além de dar aula você trabalha com o que?”
“O seu hobby é dar aula de ginástica?”

Até então o único segmento do mercado de trabalho que exigia o curso de Educação Física eram as escolas, o que justifica boa parte da carreira dos professores formados nesse setor, por ser o único que formalizava a relação de trabalho e podia oferecer as garantias sociais para seus profissionais. Esse cenário compreende o olhar simplificado da sociedade para essa profissão e, também faz compreender a grade curricular da graduação em Educação Física daquela época, composta por grande maioria de disciplinas ligadas a atividades feitas nas escolas. Mas com a proximidade de uma regulamentação federal e todas as implicações que isso iria trazer com a formação de um conselho nacional e também seus conselhos regionais, algumas atividades que permitiam a atuação de profissionais sem formação acadêmica passavam a ser pertencentes a categoria que estava prestes a se regulamentar.

Portanto, passaria ser necessário o registro no conselho regional e, para se registrar, o diploma em uma faculdade de Educação Física. Era o resultado da luta de uma classe trabalhadora por reconhecimento e direitos. Não entendia a dimensão dessa conquista, mas percebia na fala dos professores veteranos o quanto isso era importante. A regulamentação profissional foi de fato um divisor de águas para os Educadores Físicos. Essa nova etapa valorizava a importância da formação acadêmica e os cursos de graduação e pós-graduação, passavam a adotar a narrativa de que esses professores tinham base educacional para criar ações de trabalho que obedecessem a lógica das literaturas específicas e dos estudos científicos.

Alias, tornava-se comum e habitual durante a graduação o termo em inglês wellness (bem-estar) para todas as atividades que traziam benefício na melhora da saúde. E, com muita precisão, dizia-se o quanto o mercado de trabalho ligado as atividades de saúde e bem-estar seria promissor nos próximos anos. A regulamentação profissional garantiria aos futuros educadores físicos a propriedade nesse campo de atuação e a produção científica relacionada a atividade física e saúde alimentava a projeção de crescimento do mercado de fitness.

Eu, logo no início do primeiro ano de faculdade, vivia a agitação dessas expectativas e, no fluxo dessa corrente de possibilidades futuras, criava minha primeira fala sobre “porque treinar?”.

Vivi um período de descoberta da ciência relacionada ao esporte e atividade física. Passei a consumir literatura e me aventurar na leitura de alguns artigos científicos importantes que desmistificavam crenças que restringiam atividade física para diferentes grupos. Foi um período de incentivo ao estudo e também a produção científica. Era importante gerar conteúdos que reforçassem a narrativa do papel da atividade física não apenas para reconhecer e valorizar os profissionais relacionados a área mas também para apresentar soluções às doenças recorrentes do sedentarismo e os maus hábitos comportamentais.

O fato da profissão de Educador Físico ser oficialmente regularizada em 1998 permitiu que logo nos primeiros meses de faculdade eu pudesse trabalhar em uma sala de musculação. A experiência profissional prematura complementou minha formação acadêmica com vivências práticas na condução dos treinos em sala e também nos relacionamentos com professores veteranos. Naquela época o treinamento com sobrecarga (halteres, barras e máquinas) tinha popularidade entre as pessoas interessadas em halterofilismo e fisiculturismo o que causava um choque cultural nos padrões estéticos da sociedade da época criando idéias preconceituosas sobre esse recurso de treinamento. Grande parte da população carregava a ignorância sobre atividade física e acabava considerando uma ameaça ao bem-estar o treinamento nas salas de musculação. Os estudos que surgiam amparavam o novo discurso e a intenção de romper alguns paradigmas relacionados ao treinamento com pesos especialmente para atrair todos os perfis de alunos possíveis para as academias.

Era um olhar mercadológico que percebia potencial de expansão e geração de lucros quando houvesse interesse do público geral e, talvez por esse motivo, inúmeros estudos científicos sobre treino resistido com carga foram feitos para comprovar benefícios no combate de diversas patologias. Na formação acadêmica os futuros educadores físicos recebiam essas informações e eu, fazendo parte desse grupo, criava minha primeira fala de incentivo ao movimento do corpo para melhora dos indicadores de saúde.

A fisiologia humana estuda o funcionamento do corpo dos seres humanos, todas as suas funções e processos existentes que garantam a manutenção da vida. E, apesar de ser parte da grade de estudos na faculdade, a origem do meu interesse na leitura estava na curiosidade em compreender como o corpo funcionava normalmente e como seriam suas respostas aos estímulos físicos. Esse conhecimento é fundamental para programar treinamentos, compreender a percepção de esforço dos alunos e entender os quadros de risco a saúde. Não tenho a pretensão de dissertar sobre fisiologia humana e suas reações durante o esforço físico. Tenho consciência que meu conhecimento sobre o tema é raso e estaria sendo injusto aos profissionais que dedicaram anos de estudo para obter o título de fisiologista. Entretanto a base mínima de estudos técnicos que auxiliaram no início da minha jornada profissional, trouxe uma percepção ampla que pauta meu entendimento sobre saúde em diferentes pontos da atividade física e do movimento humano.

Compreender que o equilíbrio é uma lei intransgressível permite interpretar a reação das cadeias musculares contra a força da gravidade, a necessidade de buscar a biomecânica adequada em cada gesto e como as funções orgânicas presentes no corpo humano obedecem a mesma lógica dos biomas da natureza. Um cubo de gelo que derrete ao equilibrar-se com a temperatura ambiente ilustra e traz sentido a essa compreensão. Assim sendo um quadro de hipertensão arterial nada mais é do que uma resposta orgânica na tentativa de equilíbrio a algum fator desencadeante e, nesse caso, toda investigação para compreender o motivo desse quadro alterado é para estabelecer soluções que auxiliem na retomada de um funcionamento adequado.

Quando observamos indicadores de saúde sempre haverá um referencial que indica o que é considerado saudável estabelecendo uma métrica que aponte o equilíbrio da função orgânica em análise. Enumerei algumas dessas funções normalmente solicitadas por médicos para exame. São elas:

- Pressão Arterial
- Frequencia Cardíaca Repouso
- VO2  Máximo
- Glicemia (hemoglobina glicada)
- Colesterol
- Triglicérides
- Ácido úrico
- Densidade óssea
- Índice de Massa Corporal/IMC (Relação cintura quadril)

Estar saudável depende de uma conjuntura de fatores que combinados entre si entregam essa condição de equilíbrio. Atividade física, boa alimentação, qualidade de sono e bom humor são hábitos que alteram o resultado dos indicadores de saúde. E quando observamos atletas ou até mesmo uma pessoa que mantêm esses bons hábitos durante um longo período de tempo temos até alguns desses indicadores “super melhorados”.

Um exemplo simples que ilustra isso é a frequência cardíaca em repouso. Basicamente quantos batimentos cardíacos realizados durante um minuto em repouso ou descanso. Para homens adultos a freqüência indicada está entre 70 a 76 batimentos por minuto (bpm). Números maiores apontam um esforço acentuado do coração para manter sua função no bombeamento do sangue. Por outro lado atletas e pessoas condicionadas conseguem ter números menores do que a base de referência “saudável” indicando um músculo cardíaco que consegue realizar suas funções na circulação de sangue com menor esforço.

Indicadores de saúde são um dos pilares que definem o status de ser condicionado fisicamente. E, talvez por depender dos hábitos saudáveis para atingir bons resultados, esse elemento abrange todas as questões comportamentais relacionadas ao bem-estar

- Alimentação
- Qualidade de Sono
- Atividade Física
- Humor

Existem diversas motivações que alimentam o desejo pela preparação física. E independente do interesse é inegável que “estar saudável” seja uma exigência fundamental. Melhorar os indicadores de saúde através de boas práticas comportamentais é o primeiro passo para preparar o corpo aos treinamentos mais complexos, práticas esportivas e sobretudo alta intensidade.