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70/20/10

6.9.2023

Tenho pensado muito em como começar a escrever sobre esse assunto. Boa parte da dificuldade é porque já conversei tantas vezes sobre isso com diversos amigos e amigas professores e atletas. São tantas estórias que ilustram a proporção 70/20/10 que fica realmente difícil encontrar um ponto de partida. Mas, uma certeza eu tenho, a conclusão delas sempre foi a mesma. Por mais que o enredo do meu texto possa ser uma “concha de retalhos” peço que tenha um pouco de fé nesse educador físico que se empenha para colocar conversas de trabalho em escrita registrando as experiências vividas e aprendidas durante a trajetória de estudo e profissão.

Em 2016 começamos um podcast na academia. O “CrossFit 198 Podcast” foi uma iniciativa de comunicação para criar uma plataforma de educação informal para alunas e alunos que treinavam todos os dias. A ideia era ter um arquivo de áudio com informações mais profundas sobre os conceitos de preparação física que dificilmente conseguem ser transmitidos cotidianamente durante as rotinas de treino. Nossa mesa era formada por quatro integrantes com experiências esportivas distintas que ajudava a trazer uma riqueza de informações para os assuntos abordados em cada episódio. Além disso, na maioria das vezes, os episódios traziam convidados especiais que tinham relação direta com o tema conversado. Hugo Pessanha era um dos integrantes do nosso quarteto e, posso dizer com absoluta certeza, o com maior experiência esportiva. Hugo foi atleta da seleção brasileira de judô durante 15 anos. Ao longo de sua trajetória, conviveu, treinou, lutou com grandes atletas, além de viajar o mundo participando das maiores competições do judô esportivo.

Atualmente, Hugo é um dos técnicos de judô do Minas Tênis Clube, um dos maiores clubes do Brasil. Naquela época, Hugo vivia a transição entre a função de atleta para professor e técnico.

Uma das pessoas responsáveis para orientar a transição em que ele vivia foi a Soraia André César, uma mulher fascinante com uma experiência incrível de vida. Soraia foi uma das mulheres responsáveis pelo crescimento do judô feminino. Metaforicamente, podemos dizer que ela ajudou a pavimentar o caminho que hoje muitas atletas da seleção brasileira de judô percorrem.

A convivência e sobretudo conversas importantes entre o Hugo e a Soraia trouxeram a certeza que ao considerar 3 aspectos da performance atlética em competição, sendo eles:

- Preparação Física
- Técnica
- Psicológico

O aspecto psicológico representa 70%  em uma escala de importância, seguido  de 20% para “técnica” e apenas 10% de “preparação física”. É importante considerar que o objeto de observação é o esporte na sua esfera mais competitiva aonde o “comum” de técnica e preparo físico está bem acima da normalidade. Evidente também compreender que são atletas com anos de experiência em práticas físicas e técnicas. E, a maior parte deles, construiu esses aspectos com muito treinamento durante os anos de formação esportiva e também podemos considerar que o aspecto “psicológico forte” seja resultado do desenvolvimento técnico e de um excelente preparo físico.

Nas quadras de basquete acompanhando jogos das categorias de base da cidade de Santo André (São Paulo) ouço com frequência o termo “tomada de decisão” ou “escolhas boas ou ruins” quando analisamos um período ou até mesmo o jogo e todos os acontecimentos que ocorreram na partida. Essas decisões ou escolhas tem relação direta com a cognição do atleta durante a partida. Posso considerar que a “inteligência de jogo” é um aspecto ligado diretamente ao cérebro, mas influenciado pela psicologia, técnica e preparação física. Talvez a proporção 70/20/10 seja para definir a relevância de cada uma dessas importâncias nas decisões tomadas durante o esporte.

“Como Desenvolver Inteligência Para Tomar As Melhores Decisões?”

A comunicação é fundamental no exercício da função de professor e técnico. Principalmente, porque é preciso orientar para extrair o melhor comportamento de alunas, alunos e atletas. Quando penso em comunicação inevitavelmente reflito sobre o uso adequado da linguagem. O significado e profundidade que cada palavra tem no contexto de uma mensagem. O cuidado com cada palavra despertou o interesse pela etmologia (estudo da origem e da evolução de cada palavra). Ao falar sobre o aspecto “psicológico” (referente a psicologia) procurei entender o significado da palavra para encontrar maneiras de desenvolver isso no trabalho.

psicologia
substantivo feminino
1. 1. 
PSICOLOGIA
ciência que trata dos estados e processos mentais, do comportamento do ser humano e de suas interações com um ambiente físico e social.

2. 2. 
conjunto dos traços psicológicos característicos de um indivíduo ou de um grupo de indivíduos."não entendo a p. dos jovens"
(Pesquisa no Google)


Uma das maneiras que uso para aprender algo novo é correlacionar com minhas experiências pessoais, especialmente aquelas mais intensas. Quando converso sobre esporte sempre me referencio no jiu-jitsu, que apesar de ser um praticante mediano, é a minha maior experiência esportiva. O aprendizado do jiu-jitsu deixa muito claro ao iniciante que as suas reações instintivas, em uma situação de combate, são seu maior adversário. E, ao traçar linhas paralelas aos outros esportes a conclusão é exatamente a mesma …

“O quanto nosso estado emocional afeta o discernimento em decisões pontuais?”

Na minha ótica de análise o 70% tem relação direta com a tomada de decisão. De fato é difícil entregar uma ação de qualidade em meio a turbulências emocionais que o ambiente e a ocasião muitas vezes provocam. Falo com frequência comigo mesmo e com pessoas próximas uma frase que ouvi recentemente.

“Não se toma decisão nenhuma com 40 graus de febre”

Sofremos muito com nossos pensamentos e boa parte dessas angústias são por projeções de futuro que na maioria das vezes nem vão se materializar. A resolução começa em investigar os próprios passos, entender o que motivou as ações, qual sentimento que nos alimentava no momento e principalmente compreender porque sentimos aquilo.

“Qual a origem dos nossos gatilhos emocionais?”

O evento esportivo, seja qual for, tem seus objetivos claros para definir a vitória e derrota. Atletas treinam especificamente para atender as demandas do seu esporte entretanto o equilíbrio emocional necessário para fazer a melhor escolha nos momentos mais difíceis de uma competição requer autoconhecimento.

Autoconhecimento deve ser construído na preparação física, nos treinamentos técnicos e táticos. Na constatação das suas dificuldades, na escuta de toda equipe técnica e principalmente no exercício permanente em confrontar nossas dificuldades.

A psicologia é fundamental para o sucesso no esporte.

Telêmaco Martins
CREF 024956-G/SP