Preciso de tempo para organizar, ou melhor, sempre começo pela organização.   É um modo pessoal de operar que aplico em qualquer ação da minha vida. Organizo e preparo para poder executar. Quando estou em casa e vou cozinhar faço exatamente isso. Arrumo a pia, lavo tudo que precisa ser lavado, preparo cada ingrediente antes de colocar na panela. Enquanto cozinho vou mantendo a organização e, na grande maioria das vezes, a comida está pronta e a pia limpa e organizada. Você pode me rotular como uma pessoa metódica e com certeza vou reconhecer que sou, porque minha cognição funciona exatamente assim. Elaboro processos de desenvolvimento para cada tarefa que executo a partir da organização.

No trabalho os processos estão presentes na elaboração de cada sessão de treinamento, no planejamento semanal e nas discussões sobre o conceito de preparação física que desenvolvo.

As sessões de treinamento diária tem em média de dois a três objetivos a serem abordados. E, apesar dos objetivos serem o tema principal da sessão, aproximadamente 60% de cada uma dessas rotinas são ocupadas por trabalhos de mobilidade, ativação muscular e aprendizado técnico para preparar o corpo à tarefa proposta. Ou seja, organização para execução.

‍

‍

O planejamento semanal é um processo que demanda mais tempo. A ideia é elaborar 6 tarefas físicas que serão distribuídas de segunda-feira à sábado. O objetivo é criar uma programação semanal de treinamento que possa entregar em sua totalidade um estímulo geral e amplo. Quero que cada pessoa que vivencie essas rotinas de treinamento possa a médio-longo prazo ter uma capacitação física que permita uma condição de enfrentamento para qualquer desafio físico programado ou inesperado. Para isso os treinos da semana precisam contemplar todas as capacidades físicas, domínios de tempo variado (para treinar os 3 sistemas de energia) e um acervo grande de exercícios para desenvolver uma habilidade motora ampla. Normalmente coloco no meu planejador a agenda completa da semana, observo as tarefas feitas na semana anterior para não repetir o mesmo estímulo no mesmo dia (variabilidade é importante!), e início a montagem das novas tarefas considerando volume total dos exercícios entre outros detalhes da programação semanal. O uso de um planejador (uma folha grande aonde posso registrar e visualizar a semana completa) me permite ter uma observação ampla para decidir com mais propriedade cada detalhe.

Força, Resistência Muscular, Resistência Cardiorrespiratória, Potência, Agilidade, Velocidade, Coordenação, Flexibilidade, Precisão e Equilíbrio são as 10 capacidades físicas abordadas no treinamento e eu sempre procurei compreender qual seria a capacidade física que alicerça toda a programação. Digo, se meu desejo é desenvolver uma preparação física que entregue um desenvolvimento seguro, uma abordagem que respeite princípios que irão garantir a integridade física e aumentar a longevidade do desempenho atlético, é preciso refletir sobre qual base esse conceito irá ser sustentado. Durante muito tempo acreditei que Flexibilidade e Coordenação Motora eram as capacidades físicas que definiriam o desenvolvimento dos praticantes. E, de fato, se você não tem uma boa flexibilidade e nem tampouco domina com maestria os movimentos a probabilidade de lesão aumenta. Nosso corpo absorve energia constantemente e por isso a mecânica adequada associada a músculos com excelente coeficiente elástico são fundamentais para suportar os impactos e o estresse mecânico. Uma vez que a flexibilidade e os estudos técnicos de movimento são negligenciados as outras capacidades físicas passam a ser impedidas do seu desenvolvimento. Por esse motivo sempre afirmei que essas duas capacidades eram a base da pirâmide que ilustra o conceito de preparação física que desenvolvo. Porém, nos últimos meses, passei a enxergar com maior clareza e profundidade o centro de desenvolvimento da preparação física.

Voltando a reflexão sobre organização e o quanto é necessário organizar para executar com qualidade.

‍

Qual capacidade física está ligada diretamente a organização?
- EQUILÍBRIO

EQUILÍBRIO não é apenas recompor a marcha quando você tropeça numa corrida. Equilíbrio essencialmente tem relação com os esforços presentes no corpo para enfrentar a força da gravidade. Mas não é simplesmente ficar e manter-se de pé. É preciso manter o centro de gravidade do corpo no lugar adequado durante todo instante, desde funções simples até movimentos complexos. Essa é a base da preparação física. Quando afirmo “executar a partir da organização” na atividade física seria tomar consciência corporal para manter permanentemente o centro de gravidade do corpo no seu devido lugar.

“A Centralização do Corpo é o princípio fundamental no desenvolvimento das habilidades e capacidades físicas”.

As lesões por esforço acontecem quando o ponto de equilíbrio sai do eixo central. Sobrecargas nas articulações, inflamações nos tendões, contraturas e estiramentos tem relação direta com a desorganização que acontece no corpo humano quando o centro de gravidade é deslocado. Flexibilidade para permitir amplitude plena das articulações, resistência muscular para sustentar a postura e INTELIGÊNCIA MOTORA para se movimentar de maneira equilibrada são os recursos para desenvolver essa capacidade física. Toda reabilitação deve seguir o princípio:

- Trazer o corpo para o centro de equilíbrio

E toda decisão de praticante e/ou treinador que priorize o desenvolvimento de outras capacidades físicas sem priorizar a busca e manutenção do equilíbrio corporal é uma ameaça a integridade física e sustentabilidade do treinamento desportivo.

Quero me permitir rever o próprio conceito. Ao criar uma hierarquia de desenvolvimento em preparação física ilustrada por uma pirâmide passo a considerar como base de sustentação do programa de condicionamento físico o equilíbrio e partir dessa percepção tomo minhas decisões respeitando a centralização do corpo.

Telêmaco Alexsander Martins
CREF 024956-G/SP

‍