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NÃO É CROSSFIT

25.7.2023

Passei alguns dias organizando os pensamentos para encontrar por onde eu começaria meu enredo. Gosto de falar sobre o que pretendo escrever até mesmo para exercitar a coerência da narrativa. E as conversas sobre cada um dos pensamentos é também um convite para quem estiver ouvindo à colaboração da reflexão.

Em outubro de 2012 cursei o módulo 1 da CrossFit. Um final de semana de teoria e experiências práticas com uma prova para avaliar a compreensão de todo conteúdo abordado. Os participantes que conseguem ter 70% de compreensão em cada um dos capítulos do manual do curso passam a carregar o status e também o certificado de “CrossFit Trainer Level 1” (Treinador Nível 1). Essa certificação tem validade de 5 anos e, caso haja interesse do treinador, renovada ou alterada para um certificado nível 2. Minha relação com a empresa CrossFit durou exatamente 10 anos e logo próximo do término de validade do meu certificado nível 2 (CrossFit Trainer Level 2) interrompi meu ciclo com a marca.

Decidi pontuar de forma breve e direta parte da minha trajetória profissional para legitimar meu lugar de fala. Não fui apenas um “treinador de CrossFit”, mas também proprietário de uma academia afiliada a marca. Foram 6 anos aplicando atividades com a CrossFit 198 (nome da minha academia). E, assim que decidi encerrar minha afiliação, removi qualquer sinal ou comunicação que usasse o logo registrado dessa empresa. Entretanto, continuo exatamente no mesmo lugar, a maioria dos alunos permanecem lá e o trabalho continua em constante desenvolvimento como sempre foi.

Durante os períodos de uso da marca estava sempre tirando dúvidas e criando estratégias de comunicação para esclarecer aos leigos e curiosos o que era de fato CrossFit. A grande maioria das pessoas achavam que se tratava de um esporte. Talvez porque em uma pesquisa rápida na internet boa parte dos resultados da busca acabam sendo das competições (provavelmente a audiência das publicações influência os algoritmos). Mas é importante que fique claro que é um programa de condicionamento físico, ou melhor, uma preparação física com modalidades mistas. Sendo assim, a sigla mais correta para esse formato de preparação física seja “MMT” (Mixed Modalities Training).

Um treinamento de modalidades mistas usa fundamentos de diferentes esportes como ferramenta para desenvolver habilidades e capacidades físicas. Esse esclarecimento é verdadeiramente importante para não ser injusto com educadores físicos que, assim como eu, não usam a marca CrossFit para assinar seus trabalhos.

O CrossFit é apenas mais um dos casos de “Brand” (marca) que torna-se sinônimo do produto que vende. Temos exemplos comuns assim em outros setores da economia. Um trabalho bem elaborado de comunicação e marketing que faz o produto ser chamado pela marca. Gosto de usar como referência o esporte MMA (Mixed Martial Artes) para auxiliar na compreensão. A organização de artes marciais mistas mais popular é o UFC (Ultimate Fight Championship) e os atletas contratados pela empresa são lutadores e lutadoras de MMA. Hoje existem um número maior de organizações e eventos ao redor do mundo o que permitiu ao público que acompanha o esporte distinguir a marca da modalidade esportiva. Mas provavelmente no início muitas pessoas usavam a sigla UFC como nome do produto.

Talvez seja mais cômodo no uso corriqueiro da linguagem dizer que fazemos crossfit ao invés de falar:

“Eu faço uma preparação física com modalidades mistas”

Mas é importante, especialmente para os profissionais que trabalham no setor, contribuir para o esclarecimento e entendimento dessa questão. Respeito e desejo todo sucesso a marca, principalmente se ela for uma aliada forte ao combate contra o sedentarismo. Mas minha função de educador me orienta a elucidar para que cada pessoa possa compreender com profundidade o que se pratica. Portanto, não é crossfit é MMT.