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O Elo Perdido

23.5.2023

Nesses últimos anos, especialmente durante a pandemia de COVID-19, passei a me interessar sobre história e antropologia. Estudar a espécie humana ao longo da sua linha histórica de existência foi o caminho para compreender as escolhas que tornaram nossa saúde tão frágil.

Permita-me a autocorreção.

Seres humanos sempre foram frágeis as adversidades presentes em cada um dos momentos de sua longa trajetória na terra. Meu ponto de reflexão está para entender o lugar que a fragilidade humana está nesse momento. Quando fazemos uma pesquisa simples em um site de busca na internet sobre as principais causas de morte no mundo atualmente, encontramos no topo da lista problemas relacionados a comportamentos patológicos.

Vou copiar e colar duas definições encontradas no Google para auxiliar na compreensão do meu raciocínio 👇

PATOLOGIA

substantivo feminino
1. 1. 
MEDICINA
qualquer desvio anatômico e/ou fisiológico, em relação à normalidade, que constitua uma doença ou caracterize determinada doença.

COMPORTAMENTO PATOLÓGICO

“comportamentos que envolvem sérios prejuízos de ordem material, física, afetiva, mental e social; que coloquem em risco a si mesmo e/ou ao meio.”

Atualmente doenças se tornam crônicas em decorrência de maus hábitos de vida. Péssima qualidade de sono, alimentação de baixa qualidade e pouca atividade física desenvolvem patologias que fragilizam a saúde dos seres humanos da era moderna. Infelizmente tivemos uma ilustração clara da “saúde frágil” durante os momentos mais críticos da pandemia. Um vírus encontrou um corpo doente e, em alguns casos, com 2 ou até mais patologias presentes (pacientes com comorbidades) aumentando assustadoramente o número de internações nas unidades de terapia intensiva e lamentavelmente também o número de óbitos.

A reflexão baseada na história traz a conclusão que nas últimas décadas, influenciados pelo desenvolvimento tecnológico e economia, mudamos drasticamente hábitos comportamentais que nos acompanhavam por milhares de anos, ocasionando causas de morte de outras naturezas. As doenças crônicas, comuns na era moderna, são construídas gradativamente ao longo de uma vida repleta de ações nocivas à própria saúde.

Não quero ser radical ao ponto de negar tudo que foi desenvolvido e conquistado em nossa história. Mas, na minha ótica, é necessário rever algumas mudanças para resgatar comportamentos que negligenciamos em detrimento de um novo modelo de vida. Considerando que recentemente o uso da internet, plataformas digitais, redes sociais, algoritmos e robôs, que influenciam tendências comportamentais e especialmente nossas emoções, mais uma ameaça pode trazer impactos ainda maiores à saúde física e mental.

É evidente que as ações necessárias para a melhora da saúde são conhecidas. O desenvolvimento também aconteceu nas áreas do conhecimento sobre saúde e bem-estar. Entretanto, a questão não está no método e sim em sua aplicação. As soluções para reverter quadros fisiológicos de doenças crônicas obedecem a mesma lógica do seu surgimento. Atitudes permanentes durante um longo período de tempo. O que nada mais é do que trocar um hábito ruim por um bom.

Então, qual seria o elo perdido para recriar hábitos tão essenciais à nossa saúde?

A resposta está nas interações dentro dos núcleos sociais que fazemos parte. Somos uma espécie que reproduz comportamento e seguimos os rituais das tribos que pertencemos, assim como os nossos ancestrais símios. Não é atoa que diversas pesquisas analisam comportamento de primatas para usar como referência a nós humanos. As estruturas sociais são muito parecidas, especialmente a organização social coletiva. Os mais velhos não apenas cuidam e zelam pelos mais novos, eles também ensinam demonstrando com suas próprias atitudes. E, analisando nossa trajetória histórica e características biológicas, a coletividade foi o recurso primordial para garantir nossa sobrevivência ao longo desses milhares de anos.

Observo pela própria experiência de vida. Sou apaixonado por atividade física e esportes. Minha paixão e interesse influenciou minhas escolhas profissionais. Cursei a graduação em Educação Física e contínuo orientando as minhas decisões nesse campo do conhecimento. Minha decisão não foi feita por uma análise do mercado de trabalho nem tampouco por tendências macroeconômicas. Despertei o interesse na infância, brincando na rua, convivendo com crianças de diferentes idades. Essa foi a minha primeira sala de aula e o convívio social tão plural meus professores. Percebo constantemente essas transformações através da convivência social dentro da academia, o quanto alunas e alunos passam a mudar de postura e atitude depois de conviver e interagir com um grupo de pessoas ativas fisicamente. Como pai, enxergo a naturalidade que meus filhos tem para alguns hábitos. É normal falar de alimentação saudável e exercícios físicos. A naturalização surgiu da convivência ao lado do pai e da mãe (nutricionista). Observando, ouvindo e fazendo parte dos núcleos de convivência. Além disso, fazemos escolhas coletivas para contribuir individualmente com cada um do grupo. Quando um dos meus filhos se mostrou intolerante a lactose decidimos parar o consumo de leite nas refeições. Não fazia sentido sentar à mesa e fazer uma refeição aonde todos não pudessem desfrutar juntos daquela experiência, por essa razão decidimos que o grupo iria fazer a restrição do leite. O fato é que as relações humanas são o motor de todo o desenvolvimento POSITIVO do mundo em contrapartida todo movimento que não privilegia o próximo é nocivo e destrutivo.

Tudo na vida deve ser pelo ser humano. Porque nossos interesses nascem de uma
inspiração feita por outro ser humano. É um ciclo de afeto que se alimenta a cada gesto de uma pessoa em direção a outra. É por isso que só conseguimos mudar algo ou alguém se iniciarmos essa reforma a partir de nós.

Essa história do Mahatma Gandhi é excelente para ilustrar isso 👇

Uma mãe levou seu filho ao Mahatma Gandhi e implorou: “por favor, Mahatma, peça ao meu filho para não comer açúcar”. Gandhi, depois de uma pausa, pediu: “me traga seu filho daqui a duas semanas”.

Duas semanas depois, ela voltou com o filho. Gandhi olhou bem fundo nos olhos do garoto e disse: “não coma açúcar”.

Agradecida – mas perplexa – a mulher perguntou: ” por que me pediu duas semanas? Podia ter dito a mesma coisa antes!”

E Gandhi respondeu: “há duas semanas atrás, eu estava comendo açúcar”.

O combate ao sedentarismo deve ser feito em coletivos de atividade física. Pessoas ativas fisicamente que tem um estilo de vida saudável devem acolher e incentivar iniciantes mesmo que seu interesse seja exclusivamente no próprio desenvolvimento. Atingir ótimos resultados em treinamento exige disciplina, tolerância e muita paciência. Mas, para ser excelente é necessário somar a essa fórmula a ação de IMPACTO SOCIAL. Contribuir no desenvolvimento das pessoas ao seu redor é uma estratégia de aprimoramento pessoal. Quanto melhor e desafiador for seu núcleo de convivência maior será sua necessidade em manter a chama do aprendiz iniciante. Contribuir, orientar e transferir conhecimento são os caminhos para buscar excelência.

Precisamos ser liderados pelas tribos